Eu ia ficar uns dias sem aparecer, porque estou de férias, mas não tem jeito, as coisas que eu não aguento insistem em cruzar meu caminho, em terra e no ar. Será rabugice dos ‘enta? Não, já me apresso em responder. São os humanos mesmo. Estes seres que fazem do mundo um lugar a cada dia pior.
Pois bem, entrei eu no avião e, com toda a boa vontade, abri uma revista que estava disponível: Brasil – almanaque de cultura popular – edição 165, de janeiro de 2013. Em verdade, eu tenho evitado muitas publicações periódicas ultimamente, porque não aguento esse lance de jornalismo que, quando não é mal feito, é canalha.
Explico: raramente as notícias publicadas nos ditos veículos tradicionais de comunicação contam com informação correta e não distorcida. Fico sempre na dúvida se isso acontece porque o autor do texto é burro, não sabe trabalhar, apurar bem uma informação, responder a todas as perguntas básicas (quem, como, quando, onde e por quê) que um texto informativo deve conter, ou se é canalhice e o jornalista usa um espaço informativo para manipular a informação e difundir seus ideais próprios, defender sua patota.
Por não ser a referida revista (ou almanaque, como queiram), um desses veículos tradicionais, resolvi dar um crédito e abri. Eis que logo na página 9 tem matéria sobre o primeiro vencedor da São Silvestre (Alfredo Gomes) ser um camarada que subia a pé a Serra do Mar, por trabalhar na companhia telefônica e ser responsável por verificar as linhas de transmissão da região.
A coisa até estava indo bem, não fosse pela falta de uma informação que se faz relevante para as pessoas compreenderem com quem estão se metendo. A matéria relata que a corrida de São Silvestre foi criada por Cásper Líbero, em 1925, e que a prova tinha início no fim da noite, com o vencedor cruzando a linha de chegada, normalmente, após a meia-noite. A matéria conta que isso só mudaria em 1988.
Ou seja, durante 62 anos a corrida manteve a característica original, acontecia à noite e terminava perto da virada do ano, conforme desejara seu criador. Mas em 1988 tudo mudou, passou a ser disputada à tarde, como consta na matéria.
O que falta no texto é o motivo. Por que passou a ser transmitida à tarde? Não cabia uma linhazinha explicando que foi por interesses comerciais da Rede Globo, que passou a transmitir a prova? Explicando que a Globo estragou o que era tradicional, mas não valorizado por ela, por não ter sido inventado por ela? Por que não permitir que seus leitores saibam que uma prova foi complemtamente desvirtuada em sua tradição porque a Globo não preserva a cultura, não respeita as tradições?
Mais uma vez a dúvida me atormenta: seria o responsável pelo texto alguém que apenas ignora os fatos e por isso não os narra ou há uma má vontade voluntária por trás de tal omissão? Mais uma vez, essas coisas que eu não aguento cruzam meu caminho.
Arquivo para 4 de janeiro de 2013
A tradição da São Silvestre
Published 4 de janeiro de 2013 Fôlego 4 CommentsTags:Alfredo Gomes, avião, Cásper Líbero, corrida de rua, férias, Globo e São Silvestre, jornalismo burro, jornalista, leitura de avião, prova de São Silvestre, Rede Globo, revista Brasil '- almanaque de cultura popular, São Silvestre
Quem não aguenta, comenta