Arquivo para 15 de dezembro de 2013

Consumismo, ato não cristão

Justamente na semana em que estávamos em Cuba, o Papa, figura maior da igreja católica divulgou seu primeiro documento como líder máximo da igreja católica, a Primeira Exortação Apostólica do Papado de Francisco, intitulada A alegria do evangelho. Nela, chama o capitalismo de tirania invisível, afirma que a distribuição desigual da riqueza gera violência e ataca a idolatria do dinheiro.

O Papa afirma contundentemente que “tal economia [a capitalista] mata. Daí que até que não termine o domínio absoluto dos mercados e sua especulação financeira, e até que não se ataquem as raízes dessas desigualdades, não se encontrará nenhuma solução aos problemas do mundo, ou a nenhum problema”.

Em visita a uma das obras de Madre Teresa de Calcutá, em Roma, o líder máximo da igreja católica ainda analisou: “Um capitalismo selvagem ensinou a lógica do lucro a todo custo, do dar para obter, da exploração sem olhar para as pessoas…. e os resultados nós vemos na crise que estamos vivendo”, de acordo com matéria do site Canção Nova.

Quem vê notícias das filas que são feitas nas lojas quando um novo modelo de celular vai chegar ao Brasil e dos preços que as pessoas pagam para ter o tal novo modelo, mesmo quando o modelo adquirido no ano passado ainda funciona muito bem, talvez não consiga imaginar que no mesmo planeta haja uma sociedade que ainda usa como transporte carros anos 1940 e quase nenhum celular. O embargo econômico sofrido por Cuba e o desapego ao consumo faz com que se tenha uma sociedade assim. Ou seja, a sociedade comunista cubana tem um estilo de vida bem mais cristão do que muitos católicos que a gente vê por aí…

SF no El Patio, com a Catedral ao fundo 4

Vendo essas atitudes de filas, consumo desenfreado e transformação do que seria uma data religiosa em dia internacional da troca de presentes, fica impossível não pensar também em todo o apelo que se tem feito pelo menor consumo de matérias primas, porque o mundo está em escassez. Então, mesmo quando o celular é “baratinho” ou até de graça – porque falei tanto ao longo do ano, paguei tantas chamadas, que tenho direito a um novo aparelho, para falar mais e gastar mais – o consumo de matéria prima e insumos para a fabricação do novo aparelho existe. Ou seja, o mal para a sustentabilidade do planeta está feito, independente de mexer no bolso ou não. Consumo é consumo. Não precisa envolver diretamente o seu dinheiro para não ser bom.

Quantas vezes desde a década de 1940 a família média do mundo capitalista trocou de carro? A cubana, nenhuma. O táxi Ford 48 que nos levou do centro de Havana para o hotel tinha sido do avô do motorista. E ele comentou sobre sua surpresa ao ver o rápido desgaste de peças de carro equivalentes em modelos novos e comparou com as peças bem conservadas que tem em seu carro. Disse que um item que dura três ou quatro décadas em seu carro, que roda 24 horas por dia, porque os motoristas se revezam, não durariam três anos em um carro novo.

Depois dessa conversa, a analogia com as pessoas que trocam de celular ou as roupas do armário todos os anos se torna óbvia. É triste ver como no mundo capitalista as pessoas são manipuladas pelos interesses econômicos dos outros. Basicamente, trabalham para comprar coisas que não precisam e dar lucro a outras pessoas, que, por sua vez, exploram seus trabalhadores para ficarem ainda mais ricos.

Nem o Papa aguenta mais isso…

Aproveito para sugerir a leitura do texto sobre o tema: Papa fala sobre crise do capitalismo selvagem durante visita a obra social, do site Carta Maior. 


placa Cabo da Boa Esperança

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