Depressão não é tristeza

Sou absolutamente leiga em medicina e estava há tempos querendo tratar do assunto depressão, mas não tinha uma boa forma de apresentar o tema. Na verdade, eu queria mais era fazer um exercício para expor um pouco do conhecimento que tenho, na tentativa de elucidar algumas pessoas ainda mais leigas do que eu. Afinal, eu não aguento mais gente que entende depressão como uma tristeza qualquer. Recentemente, circulou no Facebook um vídeo muito interessante sobre o assunto e me animei a tratar do tema e apresentar o vídeo. Não gosto muito da ideia de um cachorro no papel de depressão, porque, para mim, cães sempre fazem parte da cura dela. Mas, no caso, o papel é bem desempenhado…

De acordo com matéria da revista Super Interessante de junho/2013 (edição 319), assinada por Carol Castro, atualmente 350 milhões de pessoas lutam contra a depressão no mundo. Assim, a possibilidade de você conhecer alguém que tenha esta doença, é muito grande. Por isso, é importante saber lidar com a questão.

É fundamental entender que depressão não é melancolia, não é tristeza, não é a apatia que se dá diante de um fato inesperado da vida. A apatia, a tristeza e a melancolia podem até aparecer como “sintomas” da depressão. A pessoa tende a não reagir, a ter dificuldade em ver as coisas boas da vida, a focar no negativo. Mas se ela tem depressão, necessariamente tem um desequilíbrio químico no cérebro.

Ou seja, é como hepatite, câncer, fibromialgia ou qualquer outra doença temporariamente incapacitante que você queira enumerar. Não dá para virar para uma pessoa com uma dessas doenças, que se encontra prostrada na cama e falar: “olha o relógio, é hora de trabalhar, vai lá!” Não depende da vontade da pessoa cumprir suas responsabilidades ou olhar o mundo da forma como você acha certo que ela olhe.

É fato que a indústria farmacêutica contribui muito para o alto índice de pessoas diagnosticadas com depressão. Já li vários relatos de pessoas que trataram depressão e depois descobriram que tinham outro mal. A mesma matéria da Super Interessante traz depoimentos neste sentido. Mas é fato também que a vida moderna gera, naturalmente, seres humanos estressados e ansiosos. E estes podem ser alguns dos fatores que desencadeiam o tal do desequilíbrio químico da depressão. Vale observar que não é qualquer desequilíbrio cerebral que significa depressão. Existem vários elementos no cérebro e é preciso que alguns deles sejam afetados para a pessoa ter a doença.

Ou seja: não é fácil diagnosticar, assim como não o é tratar. Pessoas que na mesa do bar ou numa conversa de elevador afirmam que o outro está com depressão e já indicam o remédio adequado deveriam ser presas. A sorte é que não é tão fácil conseguir os remédios para este mal e o paciente acaba tendo que consultar um psiquiatra ou neurologista. Fato é que também nem sempre estes acertam na dose e no tipo de medicamento. Do que eu já vi, é quase um jogo de acerto e erro do médico com a cabeça do paciente…

É importante ressaltar nisso tudo que quando você vê seu colega de trabalho que antes era tão falante ficando a cada dia mais triste ou quando um parente seu sofre uma decepção e fica apático, horas sentado à frente da televisão, esperando que se abra a porta da esperança… não necessariamente estas pessoas estão com depressão. Podem estar tristes diante de um tropeção da vida, vão viver o momento e vão se recuperar mesmo sem tratamento médico

A revista Vida em harmonia também trata do assunto na edição de fevereiro/março de 2012, em artigo do psiquiatra Marcelino Henrique de Melo. Ele alerta que “sentimentos como a tristeza, ciúme, remorso, vergonha, desesperança são legítimas manifestações humanas”. Na depressão existem sintomas como a alteração da capacidade de experimentar o prazer, lentidão psicomotora, problemas de sono, diminuição da auto-estima, ideias de culpa ou de indignidade. A gravidade da doença está, entre outros distúrbios causados no organismo, na geração de ideias suicidas. Uma simples tristeza ou prostração não leva a isso, mas a doença sim. Além disso, situações cotidianas estressantes “causam um sofrimento desproporcionalmente maior e mais prolongado nos deprimidos”, explica o psiquiatra.

O grande problema é que identificar a doença não é fácil nem mesmo para quem a tem: “O deprimido geralmente percebe que não está bem, mas nem sempre reconhece que se trata de uma doença e atribui o fato a situações de vida, muitas das vezes demorando a procurar ajuda”, destaca o artigo. No entanto, é preciso procurar ajuda, porque tristeza passa, mas depressão tem que ser tratada.

Insisto: tristeza e prostração são tristeza e prostração. Depressão é outra coisa. Gente que confunde isso, eu não aguento mais!

9 Respostas to “Depressão não é tristeza”


  1. 1 letradeletra 22 de março de 2014 às 21:36

    realista, lírica e sensata….!

  2. 2 Lucia Agapito 19 de março de 2014 às 12:00

    Excelente, como sempre. Vou compartilhar porque sempre tem alguém que precisa ou que conhece alguém que precisa!

  3. 5 Nanda 19 de março de 2014 às 11:36

    Muito bacana Sandra.

  4. 6 David 19 de março de 2014 às 10:09

    Excelente texto, Sandra. Encaminhei para pessoas que passam ou passaram por isso. Beijo!


  1. 1 Os números de 2014 | Quem aguenta? Trackback em 1 de janeiro de 2015 às 19:47
  2. 2 depressão não é melancolia | letradeletra Trackback em 22 de março de 2014 às 21:44

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