Está circulando doidamente pelas redes sociais um vídeo de um camarada de bom coração que faz uma sequência de gestos bacanas ao logo do seu dia. Divide sua comida com um cão, seu dinheiro com uma menina que quer estudar, sua força com uma idosa que trabalha com um carrinho de mão… É o bom moço que toda mãe quer para casar com sua filha. No final, o que ele ganha com isso? Fica mais rico? Tem mais poder? Não, apenas tem uma vida feliz. E assim termina o comercial de uma empresa de seguros.
Se você ainda não foi contaminado por ele, pegue o lenço e inicie o vídeo aqui.
Os comentários vão desde “assista esse vídeo e se emocione” até “assista e se torne uma pessoa melhor”. E pensar que os caras só queriam vender umas apólices de seguro!
As mesmas pessoas ficaram supercontentes com a notícia que circulou também doidamente pela internet de um camarada que encontrou um dinheiro e uma fatura que venceria naquele dia, pagou a fatura com o dinheiro e ainda se empenhou em descobrir a dona que tinha deixado tudo cair no chão no meio da rua para devolver a fatura paga, juntamente com o troco.
Daí os comentários são ainda mais contundentes: “ah, se todos fossem iguais”, “como o mundo seria melhor se existissem mais pessoas assim”, “puxa, isso é um exemplo a ser seguido”.
E é sempre assim. Toda vez que um cidadão comum (de preferência pobre e endividado, para o enredo ficar mais comovente) encontra uma mala de dinheiro no meio da rua, carteira recheada na lata do lixo ou baú de jóias por aí e devolve, a sociedade entra em comoção, as emissoras de TV vão ao encontro de aumentar a audiência, filósofos e psicólogos são entrevistados nas rádios para abordar o assunto.
Passados alguns dias, tudo volta ao normal. Nenhuma das pessoas que ficaram tão comovidas e choraram diante do computador passa a fazer boas ações por aí como o camarada do comercial de TV e acredito que muito poucas devolveriam alguma fortuna que viessem a encontrar. É o velho ditado transferido para o mundo virtual: faça o que eu compartilho, mas não faça o que eu faço.
As pessoas não percebem que se cada uma delas fosse desse jeito que tanto admiram, aí sim o mundo seria melhor. Não adianta ficar cobrando dos outros, aquilo que você não dá conta de fazer.
Falta de coerência, eu não aguento.
Esses troços já andam me irritando na internet…. porque na vida real o ser humano está cada dia pior, então eu também não aguento 😦
Mas é sempre o “se as pessoas fossem”… é muito mais fácil do que “eu começar a fazer”… e depois se me chamam de bobo? Aí num dá, né?
Cidadania deveria ser disciplina obrigatória desde a pré-escolar até ao PhD. Da literacia para adultos até às Universidades Sénior e “Life Long Learning Programs”. Para todos mesmo.