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Tudo por um furo

Tudo por um furoFui assistir ao filme Anchorman 2 que, na péssima tradução em português virou Tudo por um furo. Tudo bem não chamar o Âncora 2, mas poderia ter alguma relação com o roteiro e chamar Tudo pela audiência, talvez… Enfim, não é para falar do título que abri o texto. Apesar de ter aberto com o assunto. Dilemas… O que me incentivou a escrever foram dois momentos do filme, que podem levar a algumas reflexões.

O primeiro é quando o apresentador resolve entregar ao público a notícia “que eles querem, não a que eles precisam” e eleva brutalmente a audiência na madrugada. A diferença com o Brasil é que nos Estados Unidos o assunto que o povo quer é mensagem patriótica, com aquela visão limitada do mundo – afinal, o mundo são apenas eles -, mostrando o quanto lá a vida é maravilhosa, mesmo que não seja para todos (mas isso não se mostra). No Brasil, o que se entende que o povo quer é antipatriotismo, com mensagens comparando o país com qualquer lugar, sendo que lá sempre é melhor. Mas a questão de fundo é a mesma. Até que ponto, para ter mais audiência, temos que entregar o que o senso comum quer? Será que o senso comum tem informações suficientes para pautar os meios de comunicação?

O outro momento de reflexão é quando o âncora não tem matéria para colocar no ar, entra no estúdio para apresentar o jornal e vê em um dos monitores a imagem de uma perseguição que está sendo transmitida pelo que seriam “as câmeras da CET”. Então, ele manda colocar a imagem no ar e começa a falar em cima, narrando aquele nada… e se empolga e começa a especular sobre quem estaria no carro, os motivos que o teriam levado àquilo, etc. etc. Tudo baseado em nenhuma informação, apenas na imaginação do apresentador. E o público delirando segue aumentando a audiência…

O filme satiriza esses dois aspectos do telejornalismo baseado nas telas estadunidenses, mas poderia bem estar tratando do que assistimos nas TVs comerciais abertas no Brasil. Em que momento e por qual razão jornalismo que presta serviços, induz à cidadania e conscientiza as pessoas deixou de ter espaço para os meninos amarrados nos postes ou ações espetaculosas da polícia filmadas ao vivo?

No mais, o filme é cheio de referências a jornalistas e peculiaridades dos Estados Unidos que talvez não sejam tão bem percebidas por quem não é de lá ou não teve uma vivência com eles. Acaba parecendo mais um pastelão nonsense. Mas ainda acho que vale ir assistir para ver como você se sente quando ele apresenta esses dois momentos tão presentes nas nossas telas. Eu senti que eu não aguento esse jornalismo comercial de baixa qualidade e homogêneo que se vê por aí…

Tá difícil

Ir ao cinema em Brasília está realmente difícil.

Em 15 de fevereiro, escrevi o texto Programa errado, contando meus dissabores em uma ida ao cinema, mesmo depois de ter escolhido hora e local a dedo para evitar os mal educados. Mas eles estão por toda parte e estavam lá.

Fiquei um bom tempo sem ir ao cinema.

No último mês, fui duas vezes. Em duas sessões não muito cheias, de documentários, nada blockbusters, que costumam atrair todo tipo de gente. Minha expectativa era encontrar uma plateia pequena e selecionada. Era pequena. E selecionada entre os piores tipos do mercado.

Segui o conselho que meu amigo David deu no primeiro post que escrevi reclamando do falatório no cinema: “Nada que um retumbante ‘shhhh’ não resolva!” Pois devo dizer que os retumbantes shhh não resolveram nada.

No primeiro filme, o camarada que falava, quando ouviu o shhh, soltou uma larga risada e continuou a falação. No segundo, as três mulheres que conversavam como se estivessem tomando chá no sofá de casa, nem perceberam, continuaram o papo naturalmente, sem esboçar qualquer reação.

Fico na dúvida se é um fenômeno da atualidade, que tem se dado em todo lugar, ou se é característica de Brasília.

O fato é que já não aguento mais ir ao cinema por aqui. Será que conseguirei ir em outros lugares?

Programa errado

Resolvi ir ao cinema na Quarta-Feira de Cinzas. Peguei a sessão das 13h, de O lado bom da vida. Minha expectativa era encontrar o menor número de pessoas possível. Ultimamente, as salas de cinema até tentam ajudar, exibindo vídeos de animação bem humorados com o objetivo civilizatório, onde avisam: desligue o celular, não converse durante a sessão, não balance a cadeira da frente com seus pés e outros. Mas, ainda assim, os seres humanos continuam não atendendo a todas as solicitações. Então, evitei pegar uma matinê de sábado no Pier 21, onde a frequência (adolescentes. Muitos deles.) por si só indica que qualquer filme a ser escolhido não será visto em paz. Fui ao cinema às 13h, da Quarta-Feira de Cinzas.

Minha expectativa de encontrar poucas pessoas se confirmou. Quando apagaram as luzes, olhei em volta e havia muito menos de 10 pessoas na sala. Alguns ainda chegaram já com as luzes apagadas, mas ainda antes do filme. Perdoados. E não passamos de 10 ao todo.

Mas vejam a minha sorte. Atrás de mim, logo atrás, nas cadeiras imediatamente depois da minha, sentaram duas moças faladeiras. Falar nos momentos antes do filme, durante propagandas e trailers, eu acho normal. Considero um momento de climatização.

O filme começou e a conversa não parou. Falavam de tudo. Comentavam cada cena. Comparavam os personagens que iam surgindo com pessoas conhecidas suas, sugeriam melhores enquadramentos para o diretor, comentavam a iluminação e, claro, falavam de coisas que nada tinham a ver com o filme, mas tinham vindo à mente naquele momento.

Esperei passar 15 minutos, como tolerância para que elas notassem que não estavam na sala de casa. A conversa continuou. Olhei para trás, como que procurando de onde vinha aquele som irritante. A conversa parou. Por não mais do que cinco minutos. Voltou na mesma intensidade, com a mesma animação e diversidade de temas.

Tentando me concentrar no filme, não pude evitar de pensar: são aquele tipo de gente que acha que seu eu mandar se calar, vou estar impedindo sua liberdade de expressão. São pessoas que não percebem que o direito delas termina quando começa o dos outros. Acham sempre que o delas ainda não parou de começar…

No meio do filme, como a sala estava bem vazia, abri mão do meu lugar estrategicamente escolhido antes de entrar na sala e fui três fileiras para frente, mais à direita, para sair da direção da conversa. Assim, o bate-papo se transformou em um cochicho distante e consegui prestar mais atenção ao filme.

Ao final da exibição, fui ao banheiro. Lá estavam as duas. Conversando animadamente. Uma lavando as mãos, a outra ainda dentro da cabine. Mas a conversa fluía naturalmente. Então, tive a certeza de que tinham escolhido o programa errado. Deveriam ter ido a um café, onde poderiam simplesmente sentar e conversar, matar saudades, colocar fofocas em dia… e sem nenhum filme para atrapalhar.

Mas foram ao cinema e eu tive que aguentar.


placa Cabo da Boa Esperança

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