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A verdade tem muitos ângulos

Eu sou Malala

Se tem uma coisa que eu não aguento é gente que, em tempos de internet e possibilidades de vários caminhos para se obter informação, se conforta com as informações que chegam até elas e acham que sabem das coisas buscando o caminho mais fácil e sendo passivas no conhecimento que adquirem.

Faço tudo para não cair nessa preguiça, de me achar informada só porque liguei a TV e o canal que estava lá por hábito me disse isso ou aquilo. Já falei aqui que o conceito de notícia para quem a produz e para quem a recebe, em geral, é diferente. Quem recebe tem a expectativa de ter um resumo do que se dá no mundo, quem emite, em geral, fala do que é inédito, diferente, não do que é um resumo do mundo. Também já falei que o jornalismo que presta serviços, induz à cidadania e contribui para a conscientização das pessoas já não existe mais, infelizmente. 

Para não me deixar levar pelos interesses defendidos pela dita grande mídia (sim, os jornais, TVs e rádios defendem interesses, um projeto de sociedade, mas isso é assunto para outro texto…), eu procuro sempre a informação por novos ângulos, não me contento em ver apenas o que chega fácil para mim. A midiona ocidental tem uma voz hegemônica, mostra sempre o mundo pelo mesmo ponto de vista, mas, que outras formas de ver as coisas estarão ocultas nessa apresentação parcial?

Depois de ler o livro Eu sou Malala, por exemplo, passei a entender de forma bem distinta os ataques que têm havido no Paquistão e a convivência com o Talibã imposta àquele povo. Hoje, os jornais falam que o governo do Paquistão atua com o apoio dos Estados Unidos para libertar o país da opressão do grupo Talibã, que defende o fundamentalismo islâmico.

Ó, como são bons os americanos!, pensarão os mal informados. Mas quem não se conforma com a visão ocidental de tudo que acontece na região do Paquistão há décadas, quem não se contenta com noticiário de CNN, Folha, Globo… sabe que não é bem assim. Se os Estados Unidos atuassem por cem anos pela paz – e não fazem isso nem por um dia, na verdade –, ainda assim, não se redimiriam pela culpa histórica por tudo que está acontecendo hoje no Paquistão.

Nós nos acostumamos a ouvir a história Talibã-Paquistão por quem chegou lá depois do Talibã e com valores baseados na cultura ocidental cristã. Ouvir a história sob a ótica de uma nativa, criança ainda quando os Estados Unidos sofreram o ataque de 11 de setembro de 2001 e adolescente quando foi alvejada com uma bala no crânio por defender o direito de meninas a estudar em seu país, faz toda a diferença, mostra um novo Paquistão, o paraíso que aquilo já foi um dia, apresenta uma nova relação com o Talibã e uma outra participação dos Estados Unidos em toda a história.

Quer saber mais? Leia a história da menina Malala, porque ouvir a história por um só ângulo, em pleno século XXI, não dá para aguentar.

Uma leitura surpreendente do começo ao fim

Capa 11o mandamento Minha experiência com a leitura é muito vasta. Adoro ler e, em geral, não tenho preconceitos. Todos os gêneros e temas me interessam. Também não me assustam os grandes volumes. Um livro de 600 páginas seria como ler 3 de 200 ou 6 de 100. E eu já demorei mais tempo para ler um livro com duas centenas de páginas muito chatas do que para devorar um com mais de meio milhar de páginas, que é o que vou contar agora.
Ganhei O 11º mandamento no final do ano. Presente da minha querida tia Lourdes pelos meus 40 anos. No momento que ganhei não pude começar a ler imediatamente, porque estava fazendo cursos e tinha leituras de trabalho que eram meio obrigatórias e tiveram prioridade. Ainda bem que fiz a escolha pela obrigação primeiro. Porque depois que peguei o livrão para ler, suas 626 páginas foram devoradas. Qualquer momento que eu tinha, dedicava a ele. Qualquer mesmo. Quero dizer que, andando no Shopping, nos momentos de subir e descer na escada rolante, abria o livro e devorava algumas linhas.
A história se passa quase toda na África, mais precisamente em Adis Abeba, capital da Etiópia. Há também uma parte nos Estados Unidos e algumas cenas e lembranças da Índia. O romance tem como pano de fundo a medicina e a luta pela libertação da Eritreia.
O livro conta a história de uma família durante mais de meio século. O narrador é o personagem principal, filho de uma freira indiana que vive em Adis Abeba. O pai? O médico cirurgião Thomas Stone, com quem a freira trabalha como enfermeira.
A capacidade de contar escondendo e de revelar os fatos na medida e no tempo certos fazem do autor Abraham Verghese um dos principais romancistas atuais. Na capa do livro, consta o selo: 1 milhão de livros vendidos nos Estados Unidos. Na orelha, o elogio: “Comparado aos maiores romancistas do século XIX e a contemporâneos do calibre de Salman Rushdie e Ha Jin, o médico e escritor Abraham Verghese nos brinda com este romance de estreia épico, em que o desenlace inesperado é apenas um dos muitos momentos dramáticos que polvilham a trama”. Tudo absolutamente confirmado ao longo da leitura.
No final, encontrar uma bibliografia substancialmente ampla para um romance, faz perceber o quanto o autor se dedicou para trazer os dados históricos da África e técnicos da medicina da forma mais acessível possível para o autor leigo.
Para quem gosta da África é imperdível. O estilo é muito próximo de O Anjo Branco, que também tem romance, medicina, história e África em uma obra de muitas páginas, que sempre é devorada por quem a toca. Para quem se interessa pela medicina, é uma lição. Para os leitores em geral, é cachaça pura. Para quem não gosta de ler, é um ótimo começo.

Matando a curiosidade, aqui o 11º mandamento: “Não operarás um paciente no dia de sua morte”.

Aí eu pergunto: quem aguenta ler um livro de 626 páginas? Se for bom como O 11º mandamento, basta saber ler.

Serviço:
Nome da obra: O 11º mandamento
Autor: Abraham Verghese
Editora no Brasil: Companhia das Letras
Valor médio da obra em papel: R$ 54,00
Valor médio da obra digital: R$ 38,00

P.S. (17/3/13): O amigo ‘nando Aidos complementa que em Portugal a mesma obra tem o nome Destinos Entrelaçados e pode ser encontrada em torno de € 23, na versão em papel.


placa Cabo da Boa Esperança

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