Resolvi ir ao cinema na Quarta-Feira de Cinzas. Peguei a sessão das 13h, de O lado bom da vida. Minha expectativa era encontrar o menor número de pessoas possível. Ultimamente, as salas de cinema até tentam ajudar, exibindo vídeos de animação bem humorados com o objetivo civilizatório, onde avisam: desligue o celular, não converse durante a sessão, não balance a cadeira da frente com seus pés e outros. Mas, ainda assim, os seres humanos continuam não atendendo a todas as solicitações. Então, evitei pegar uma matinê de sábado no Pier 21, onde a frequência (adolescentes. Muitos deles.) por si só indica que qualquer filme a ser escolhido não será visto em paz. Fui ao cinema às 13h, da Quarta-Feira de Cinzas.
Minha expectativa de encontrar poucas pessoas se confirmou. Quando apagaram as luzes, olhei em volta e havia muito menos de 10 pessoas na sala. Alguns ainda chegaram já com as luzes apagadas, mas ainda antes do filme. Perdoados. E não passamos de 10 ao todo.
Mas vejam a minha sorte. Atrás de mim, logo atrás, nas cadeiras imediatamente depois da minha, sentaram duas moças faladeiras. Falar nos momentos antes do filme, durante propagandas e trailers, eu acho normal. Considero um momento de climatização.
O filme começou e a conversa não parou. Falavam de tudo. Comentavam cada cena. Comparavam os personagens que iam surgindo com pessoas conhecidas suas, sugeriam melhores enquadramentos para o diretor, comentavam a iluminação e, claro, falavam de coisas que nada tinham a ver com o filme, mas tinham vindo à mente naquele momento.
Esperei passar 15 minutos, como tolerância para que elas notassem que não estavam na sala de casa. A conversa continuou. Olhei para trás, como que procurando de onde vinha aquele som irritante. A conversa parou. Por não mais do que cinco minutos. Voltou na mesma intensidade, com a mesma animação e diversidade de temas.
Tentando me concentrar no filme, não pude evitar de pensar: são aquele tipo de gente que acha que seu eu mandar se calar, vou estar impedindo sua liberdade de expressão. São pessoas que não percebem que o direito delas termina quando começa o dos outros. Acham sempre que o delas ainda não parou de começar…
No meio do filme, como a sala estava bem vazia, abri mão do meu lugar estrategicamente escolhido antes de entrar na sala e fui três fileiras para frente, mais à direita, para sair da direção da conversa. Assim, o bate-papo se transformou em um cochicho distante e consegui prestar mais atenção ao filme.
Ao final da exibição, fui ao banheiro. Lá estavam as duas. Conversando animadamente. Uma lavando as mãos, a outra ainda dentro da cabine. Mas a conversa fluía naturalmente. Então, tive a certeza de que tinham escolhido o programa errado. Deveriam ter ido a um café, onde poderiam simplesmente sentar e conversar, matar saudades, colocar fofocas em dia… e sem nenhum filme para atrapalhar.
Mas foram ao cinema e eu tive que aguentar.
Quem não aguenta, comenta