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As empresas deveriam dar mais valor à última flor do Lácio

evento Electrolux FB
Recentemente, organizei um evento no Facebook com o objetivo de chamar atenção para uma situação que eu vivia ao precisar do atendimento de uma assistência técnica da Electrolux (quem participou do evento, inclusive, pode pular a parte inicial do texto porque já conhece a saga e ir para o 10o parágrafo: –>). Por mais de um mês eu discuti com a assistência técnica BRM e com a fabricante da máquina de lavar roupas se o aparelho poderia ou não ser instalado na minha casa.
O evento foi um sucesso, a máquina foi instalada, as roupas estão limpas, mas uma questão não sai da minha cabeça: tudo não passou de um problema com a língua portuguesa. Eu sempre afirmo e reafirmo que é preciso prestar atenção ao amplo vocabulário que temos em nosso idioma. Há dicionários que trazem mais de 400 mil verbetes. Nossa língua consegue ser lindamente precisa: cada palavra tem seu sentido e é necessário prestar atenção às semelhanças para não cometer erros.
O caso da instalação da máquina foi exatamente esse. Ao ligar na assistência técnica para solicitar a instalação, a atendente perguntou se eu tinha lido o manual e se o local estava adequado. A resposta foi sim para as duas perguntas (sim, eu leio manuais de eletrodomésticos). O técnico veio e entendeu que o local não estava adequado.

No manual está escrito: “Obs.: Recomenda-se um espaço livre de 200 mm em cada lateral a fim de facilitar o aperto dos parafusos de fixação.” Percebam que é uma observação, assim, quase que de passagem, depois das especificações dos requisitos. Mas eu li e sim estava adequado.

Ocorre que o técnico também leu e entendeu: É necessário 200 mm de parede livre em cada lateral. Ele disse que sem 200 mm de parede de cada lado não era possível instalar.

Oras, onde está escrito que é “necessário”? Oras de novo, onde está escrito que é de “parede” livre? Na minha casa, de um dos lados, a parede termina antes dos 200 mm, mas o espaço fica livre, porque tem um corredor! Então, há espaço livre em tamanho ainda maior que o solicitado pelo manual.

Observem que está escrito no manual que tal recomendação é para “facilitar” o trabalho do instalador. Não é para viabilizar. Para quem percebe o significado de cada palavra, são coisas bem diferentes.

A Electrolux, depois de muita explicação, de eu mandar fotos, de ter conversado por horas (literalmente) com o pessoal do SAC, concordou comigo e o departamento de engenharia indicou que fosse feita a instalação. Como a máquina foi instalada e vem funcionando perfeitamente, só posso acreditar que o manual estava certo.

Mas vejam que absurdo: o técnico leu a mesma coisa que eu e teve uma compreensão completamente diferente. Entendeu que recomendação era exigência, entendeu que espaço livre era parede livre, entendeu que facilitar o trabalho do instalador era viabilizar o trabalho do instalador.

–> Quanto dinheiro a Electrolux gastou nessa operação? Horas de funcionários ao telefone comigo, dezenas de trocas de e-mails, engenheiros fazendo análise de fotos e medidas que eu enviei, gente debruçada sobre o manual para entender onde estava a divergência. Isso é só a ponta do iceberg. Ponta de um imenso iceberg de ignorância que flutua em torno das empresas causando prejuízos sem que elas se dêem conta.

No mundo empresarial é comum vermos e-mails com erros dos mais grotescos sendo cometidos: está e estar é uma diferenciação que não existe para muitas pessoas, assim como entendi e entende e compraram e comprarão ou ainda mas e mais.

AOD
Que erros de compreensão do conteúdo essas pequenas trocas de letrinhas não podem causar? Sem falar no bem tão precioso para as empresas: tempo. Já precisei ler o mesmo e-mail mais de três vezes para entender o sentido, tamanha era a confusão entre as palavras.
Muitos dos que percebem culpam a educação básica. Concordo, não saber diferenciar está de estar é problema lá do início da alfabetização. Mas, e se, além de cobrar de forma séria e consistente do poder público, as pessoas fizessem algo para mudar essa triste realidade? Porque, afinal, mesmo que a educação básica venha a ser mais eficiente daqui pra frente, aquele seu colega, que já passou até por uma faculdade, vai continuar não sabendo a diferença entre onde e aonde.
Acredito que aqueles que tiveram acesso a uma educação melhor do que a média têm obrigação social de melhorar esse quadro hoje e, sim, cobrar que no futuro todos cheguem no ambiente corporativo sem confundir mas com mais. Um profissional que estudou em escola particular, frequentou uma boa universidade e recebe e-mails com erros de seus próprios colegas de trabalho tem a obrigação moral de fazer alguma coisa para mudar isso. Pode, por exemplo, oferecer um curso gratuito de português dentro da empresa. Uma hora por semana, dicas básicas. Posso garantir que não mata ninguém. Já fiz algo semelhante (no meu caso era um curso de inglês, porque foi a demanda dos colegas na época) e só saí ganhando.
Mas mais
Não tem condições de fazer seja por que motivo for? Dissemine a informação. Na internet já existem diversas imagens, além de sites sérios com artigos curtos e interessantes que podem ser compartilhados por você. Eu li por exemplo esse aqui: Os 50 erros ortográficos mais comuns no mundo do trabalho. Achei bem legal e me inspirou a escrever esse texto. Existem muitos outros. Claro que antes de compartilhar avalie a qualidade!
Incentive a leitura. Ler é uma das melhores formas de gravar na memória a grafia das palavras. Distribua livros como brindes em festas da empresa, incentive a criação de uma biblioteca no ambiente corporativo, dê dicas de livros interessantes, relacionados ou não ao trabalho.
Pequenas atitudes podem contribuir para melhorar a comunicação na empresa, utilizar melhor o tempo no ambiente de trabalho e melhorar a auto estima dos funcionários, que se sentirão valorizados ao terem mais conhecimento de uma ferramenta tão importante, mas tão maltratada como a língua portuguesa.
Gente que não entende o valor da língua portuguesa, eu não aguento!
 

placa Cabo da Boa Esperança

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