Posts Tagged 'revolução cubana'

Dois países, quatro hotéis

Nossas férias mais recentes se passaram em dois países: Cuba e Panamá. Mas mais do que uma viagem por países, fizemos turismo em hotéis. Em geral, a gente costuma escolher hotéis legais para ficar, mas dessa vez… foram hotéis de fazer turismo dentro. Então, achei que valia um post para contar sobre eles.

Habana Libre, em Havana, Cuba – O nome completo agora é Tryp Habana Libre, porque ele entrou para a rede Meliã, o que foi ótimo, porque revitalizaram o edifício por dentro e por fora, mas sem perder suas características originais. Foi como dormir na história. Em 1 de janeiro de 1959, após a vitória da revolução que libertou cuba da ditadura de Fulgêncio Batista, os revolucionários tomaram o hotel que havia sido construído justamente durante a ditadura e ele passou a ser alojamento e sede do novo governo. Fidel se instalou no apartamento 2.324 e de lá coordenava as atividades no país. Assim foi por três meses. No lobby do hotel tem uma galeria de fotos da época. Lindo ver os revolucionários espalhados com cara de acabados pela luta, nos sofás do grandioso hotel. São 25 andares, com excelente infraestrutura em 10 mil metros quadrados de muita história e ótima localização. Na fachada, um enorme mural de cerâmica, da pintora cubana Amelia Peláez recebe dá as boas vindas aos hóspedes.

Habana Libre

Hotel Nacional, em Havana, Cuba – Construído em 1930, Monumento Nacional desde 1998. Oferece linda vista do Malecón – avenida beira-mar, com calçadão, onde se pode encontrar artistas de rua tocando instrumentos de sopro e apreciar o mar batendo no imenso muro que o separa da calçada. Mas oferece muito mais. História na veia outra vez. Tanta história que, duas vezes por dia, é feito um tour pelo hotel. Eu nunca tinha visto algo igual. No tour, visitamos o bunker que fica sob os jardins e onde se pode aprender sobre a crise dos mísseis, de 1962, e vimos canhões originais que defenderam a ilha na guerra hispano-cubana-norte-americana, de 1898, quando o terreno hoje ocupado pelo hotel era um forte. É possível ver também a galeria de fotos com personalidades conhecidas mundialmente que já estiveram por lá, presidentes de países, atores, cantores, etc. Nas portas de alguns quartos há a indicação dos famosos que já dormiram naquela habitação.

tour Hotel Nacional 1

Sem contar que, de todos os hotéis que eu fui na vida, foi o único que levou a sério a própria propaganda da sustentabilidade. Há mais ou menos uns dez anos, os hotéis passaram a deixar um aviso de que lavar toalhas de banho todos os dias consome muita água e água é vida, é essencial ao planeta, blablabla e, então, se você, hóspede, temsustentabilidade no Hotel Nacional consciência ecológica, deve pensar se é necessário lavar sua toalha hoje e, caso considere que não, você deve deixá-la pendurada; se considerar que deve ser lavada, deixe no chão. Desde que vi isso pela primeira vez, invariavelmente eu tento usar a mesma toalha dois dias seguidos e absolutamente nunca consegui. Ou seja, o hotel fica de bonito como se estivesse preocupado com o meio ambiente, mas não é capaz de treinar seus funcionários a fazerem o que prega. No começo eu enviava reclamação para a gerência, hoje desisti, porque mesmo nos hotéis em que fiz isso e voltei a me hospedar, a regra nunca foi cumprida. E não é que no Nacional de Cuba foi? Gente, lindamente. A toalha que estava no chão foi trocada e a que estava pendurada não.

corredor do hotel Nacional

Meliã Cayo Santa María, Cayerías del Norte, Cuba – Um resort no estilo all inclusive, à beira do mar caribenho, em uma ilha que fica num arquipélago ao norte da grande Ilha. Seis restaurantes, quatro bares, spa, piscinas e amplos quartos com varanda garantem atendimento, descanso e entretenimento 24 horas. A única preocupação do hóspede é decidir o que quer fazer: tomar mojito na beira da piscina ou ser atendido na praia de areia fofa diante do mar azul caribenho? Jantar no restaurante japonês ou no italiano? Participar da aula de ioga ou ouvir a banda cubana que está a tocar no bar do lobby? Massagem…

280 Meliá Cayo Santa María

Hard Rock Hotel Panama Megapolis, Cidade do Panamá, Panamá – O plano inicial era aproveitar a conexão no Panamá para conhecer o Canal do Panamá. Nem dormiríamos no país. No retorno ao Brasíl, chegaríamos de Cuba cedo, iríamos ao passeio e no fim do dia pegaríamos voo para Brasília. Mas a Karla Maria, da agência Mundo Tour, sempre me surpreendendo positivamente, colocou duas noites num hotel, que eu nem sabia que existia, mas quando vi do que se tratava… quis mais! São mais de 1.400 quartos super confortáveis, em um prédio de 63 andares de muito rock na veia. Ficamos num quarto no 55o andar. Dá pra imaginar? Não, né? Então, aí vai a foto:

188 vista do 55o andar do Hard Rock Hotel Panama

E pelos corredores, muitas peças que fizeram a história dor rock and roll.

154 Hard Rock Hotel Panama

Lá dentro também conhecemos o Tauro, restaurante especializado em carnes. O preço é um pouco salgado, mas vale cada centavo. Carne maravilhosa, acompanhamentos perfeitos, ambiente super bem decorado. Para os carnívoros profissionais, é o lugar…

151 Hard Rock Hotel Panama restaurante Tauro

Cuba além de Havana e Varadero

O básico para fazer em Cuba é a capital, Havana, e uma praiazinha, porque ninguém é de ferro. Afinal, a ilha é no mar do Caribe e isso não é qualquer coisa. Como Varadero é a praia mais próxima de Havana, o destino mais óbvio é lá. Seguindo essa regra, na primeira vez que fomos a Cuba, conhecemos exatamente Havana e Varadero.

Agora, em janeiro de 2015, voltamos para Havana e conhecemos também Santa Clara, Remédios e Cayo Santa María, tudo na província Villa Clara. Ainda falta muito, mas já deu para satisfazer mais nossa sede de compreensão e conhecimento sobre a ilha dos Castro. 091 Villa Clara

Santa Clara é a terra de Che Guevara. Lá ele liderou o Exército Rebelde na tomada do trem blindado, em 29 de dezembro de 1958. A última grande ação da revolução, que permitiu a chegada ao poder em 1 de janeiro de 1959, libertando o povo da ditadura de Fulgêncio Batista.

Para marcar a importância da relação entre o lugar e Che, é lá que se encontra o mausoléu com os restos mortais do herói argentino. Fica ao lado de um museu com peças de vestuário e objetos do cotidiano de Che Guevara, ambos sob um enorme monumento à oeste do Parque Vidal. 044 Santa Clara Che Na mesma cidade também estão preservados alguns vagões do trem blindado, que carregava mais de 400 homens e um poderoso arsenal de armamentos com canhões, bazucas, lança foguetes, metralhadoras, fuzis e inúmeros projéteis. Eles estão no exato local onde o trem foi atacado em uma batalha de uma hora e meia que foi decisiva para o sucesso do Exército Rebelde. 277 assalto ao trem blindado Santa Clara é Che Guevara na veia. Se você admira o cara, vá. Se não admira, leia mais. Mas é também muita agitação cultural. Lá fica a segunda universidade mais famosa de Cuba: Universidad Central Marta Abreu de las Villas. A primeira é a Universidad de La Habana. Com isso, a cidade tem muitos jovens e inquietos universitários, que fazem da vida noturna uma mistura de música, teatro e dança. 042 a cultura em Santa Clara Estando em Santa Clara, você consegue pegar um ônibus até Remédios, da companhia Víazul, e, em menos de uma hora chegar a um dos povoados mais antigos de Cuba, onde fica o bar mais antigo do país em atividade contínua: El Louvre, inaugurado em 1866. Em algumas horas vo060 Remédios restaurante mais antigocê anda a cidade toda, vê a arquitetura colonial, desfruta de um ambiente tranquilo numa pequena cidade pacata do interior.

Tanto em Santa Clara quanto em Remédios, é possível comer em restaurantes destinados ao público local com mais facilidade do que em Havana. Explico: em Cuba temos duas vidas financeiras paralelas – a dos turistas e a dos moradores locais. Contei aqui que isso significa haver duas moedas, o CUC dos estrangeiros e o CUP dos locais. Assim, a maioria dos lugares que frequentamos é para turista ver. Já cobra logo em CUC e quase não se vê cubano como cliente. Daí surgem as várias lendas sobre como os cubanos vivem mal na própria ilha. Com o tempo, passaram a ser permitidos os Paladares, que são restaurantes, instalados nas casas de cubanos, que servem comida típica local, com ares mais caseiros. No entanto, a maioria dos frequentadores ainda é estrangeira. 089 La Toscana Santa Clara

Em Villa Clara conhecemos alguns restaurantes como o Portales de La Plaza (em Remédios) e o La Toscana (em Santa Clara) frequentados por moradores locais. Nesses estabelecimentos, inclusive, a conta veio em CUP e tivemos que pedir a gentileza do garçom converter para podermos pagar com a única moeda que tínhamos, CUC. Para surpresa do leitor mais ingênuo, a comida era ótima, da mesma qualidade que nos restaurantes “para turista ver”. A diferença é que o prato para os locais sai bem mais barato e o serviço é menos cheio de frufru.

Na região, há ainda Trinidad, na província vizinha de Sancti-Spiritus. Não coube no nosso roteiro, mas parece bastante interessante, uma cidade colonial maior e com mais edifícios preservados do que Remédios. Comparando para quem é do Centro-Oeste do Brasil ou conhece a região: Remédios é mais Pirenópolis, Trinidad é mais cidade de Goiás. Fomos a Remédios, pelo mesmo motivo que as pessoas que estão em Brasília, em geral, vão a Pirenópolis: é mais perto.

Nossa última descoberta nessa viagem foi Cayo Santa María. Cayos são as ilhas menores que cercam a grande Ilha de Cuba. Para chegar a Santa María, foi construído El Pedraplén: 48 km de estrada em forma de recifes artificiais que ligam as Cayerías del Norte (seria o arquipélago do Norte). Até Cayo Santa María são 45 pontes na estrada, que permitem o escoamento do mar em meio aos recifes. É uma mistura fantástica de obra da natureza com obra dos homens. Em Cayo Santa María, assim como em Varadero, uma sequência de resorts acolhe os turistas com ótima hospitalidade e grande oferta de serviços e passeios. Dias para não fazer nada, apenas escolher entre água doce ou água salgada, bar da piscina ou bar da praia, Mojito ou Daiquiri, churrascaria ou restaurante japonês, massagem relaxante ou energizante… 118 Cayo Santa María Mas hotel é assunto para outro post, porque tanta informação num só, nem eu aguento.

Livro traz conversas entre Fidel e Frei Betto

Fidel y la religionO livro Fidel y la religion é resultado de 23 horas de entrevistas do religioso dominicano brasileiro Frei Betto com o líder cubano, Fidel Castro.

Em determinado momento Fidel fala que não houve jamais uma condenação do capitalismo por parte da igreja católica. Em 1985, as palavras do comandante Fidel foram: “Não houve jamais uma condenação do capitalismo; quem sabe, no futuro, dentro de 100, 200 anos, quando o sistema capitalista já não exista, haja quem amargamente diga: durante séculos as igrejas dos capitalistas não condenaram o sistema capitalista, nem condenaram o sistema imperialista, o mesmo que dizemos hoje que durante séculos não condenaram a escravidão, o extermínio dos índios e o sistema colonialista”.

Mal sabia Fidel que já em 2013 o Espírito Santo guiaria os cardeias a elegerem um papa que condenaria o capitalismo e daria tantas lições de como o bem comum é mais importante que o privado. Por essas quase profecias e por tantas outras informações contidas nas suas 379 páginas, ler Fidel y la religion foi realmente esclarecedor e desmitificador. Além disso, contribuiu um pouco mais com meu objetivo de compreender melhor a sociedade cubana e o regime sob o qual se vive por lá.

Basicamente, o livro mostra a relação do líder da revolução cubana de 1959 – que derrubou a ditadura de Fulgêncio Batista – com a religião. Mas acaba por mostrar que, muitas vezes, as famílias seguem algumas crenças religiosas mesmo sem perceber o que estão fazendo ou sem saber o verdadeiro sentido delas. É o famoso “já estava assim quando eu cheguei” que faz com que a família batize seus filhos mesmo sem frequentar uma igreja ou ser fiel (de verdade, não só da boca para fora) a seu deus.

O livro descreve desde a relação da mãe e da avó de Fidel com a religião até a relação do líder revolucionário com as instituições religiosas após o sucesso da revolução.

No decorrer da conversa, alguns mitos vão sendo derrubados. Eu, pelo menos, descobri que tinha muita informação equivocada sobre a religião católica e também sobre como se deu a mudança de sistema de governo em Cuba. Diferente do que ocorreu em outros países, os líderes cubanos não optaram pela nacionalização integral e imediata de todos os recursos. A educação, por exemplo, permaneceu privada por algum tempo. A estratégia foi investir e melhorar muito a educação pública, fazendo-a chegar onde a privada não chegava e com qualidade inigualável. “Ao cabo de 26 anos de revolução, logramos colocar ao alcance das famílias mais humildes escolas melhores do que as que tinham as famílias privilegiadas. E isso quem dá é a sociedade, o Estado socialista o proporciona”, diz Fidel.

O comandante explica também que não é exclusivamente a favor da nacionalização de tudo em 100% e nem da gratuidade nestes termos. Para ele, até mesmo um governo socialista pode ter escolas pagas, com tanto que as escolas gratuitas não faltem nem sejam piores. Ele entende que não é necessário dedicar recursos aos setores da sociedade que podem pagar escola. Então, os governos podem mesclar as duas situações e as famílias escolherem se seus filhos vão estudar, por exemplo, na escola laica estatal ou na escola religiosa que a família escolher. O que aconteceu em Cuba foi que logo após a revolução as escolas privadas passaram a ser centros de atividade contrarrevolucionária, onde se desenvolveram ações violentas, com associação à sabotagem, bombas e outras atividades promovidas pelos Estados Unidos da América, o que fez com que o governo, afinal, optasse pela nacionalização.

Curioso também foi ver que, simultaneamente a decisões deste gênero que tinham que ser tomadas em todos os setores do governo, ainda havia que se enfrentar boatos irracionais, mas que causavam transtorno ao correrem pelas ruas, como os de que com a vitória revolucionária as famílias brancas e negras seriam obrigadas a se mesclar, que isso seria obrigado a se realizar de forma arbitrária, ou que se acabaria com o pátrio poder e os filhos dos cubanos seriam tomados pelo governo e enviados para a União Soviética, além de outras sandices do gênero, que eram inculcadas nas pessoas pela forte campanha dos menos de 10% da população que representavam a elite na época e que haviam perdido seus privilégios, apoiados, claro, pelos Estados Unidos da América, até então, praticamente donos da ilha de Cuba. Sobre isso, Frei Betto lembra que nos primeiros séculos do cristianismo também houve muitas dessas coisas, que se dizia, por exemplo, que os seguidores de Cristo comiam carne humana.

Também diferente do que faz pensar a propaganda enganosa e odiosa contra o socialismo, que diz que todas as pessoas recebem os mesmos valores independentes de sua contribuição à sociedade, Fidel explica que no socialismo se retribui a cada um de acordo com sua capacidade e com seu trabalho e no comunismo cada um recebe de acordo com suas necessidades. Ou seja, as diferentes funções sociais têm diferentes remunerações. No entanto, o que não existe é a grande desigualdade entre um funcionário no mais baixo nível hierárquico e outro no mais alto e nem a exploração do homem por um semelhante; todos trabalham pelo Estado, ou seja, pelo bem comum.

Ainda bastante alinhado com o atual papa Francisco, em 1985 Fidel disse a Frei Betto: “às vezes utilizo aquela frase de Cristo, que dizia: ‘É mais fácil para um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que para um rico entrar no reino dos céus”. E Frei Betto complementou: “Não significa, do ponto de vista teológico, que Jesus fez uma discriminação com os ricos, significa que Jesus fez uma opção pelos pobres”. Exatamente o que está fazendo agora o papa e pedindo que os fiéis de sua igreja o façam.

No final do livro, Frei Betto afirma estar convencido que as palavras, opiniões, ideias e experiência de Fidel viriam a ser, sobretudo para os leitores cristãos, não somente um alento para sua esperança política, mas também uma força para sua vida cristã.

Como leitora não cristã, posso dizer que o livro abriu minha mente e diminuiu muito de meu preconceito contra a religião. Pude perceber que o problema, como sempre, está nos homens, que tudo distorcem com seu egoísmo desenfreado. Por isso, mesmo não tendo relação alguma com religião, me interessei por ler sobre o assunto. Afinal, ficar na ignorância, eu não aguento.

Quem se interessar pela leitura, pode encontrar o livro em português, a ótimos preços, em sebos virtuais como o Sebo do Messias e a Estante Virtual, que tem também a versão em espanhol.


placa Cabo da Boa Esperança

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