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O pior do ser humano

Está aí o fim de ano, período de festas e férias e, com ele, a temporada de descarte. Infelizmente, não estou falando de descarte de coisas que as pessoas não usam mais em suas casas. Estou falando de descarte de vidas. Em um só dia, na minha página do Facebook vi dois posts de gente que está doando seus cães. Motivo: mudança.

marco-antonio-guimara%cc%83esUm deles, o dono é o Marco Antonio Guimarães, parece que do Rio de Janeiro. O outro só sei que é de Belo Horizonte, mas não tive acesso ao nome da dita família. A posse responsável de animais não se trata apenas de cuidar bem, alimentar, manter hidratado e acompanhar sua saúde, implica também em entender que é um ser vivo, que tem sentimentos e que sua existência pode durar algumas décadas. Antes de escolher ter um animal para alegrar a sua casa, é importante entender que sua vida passa a estar atrelada a ele, que você terá que ser responsável por sua existência, enquanto ela durar.

Qualquer pessoa que tenha tido breve contato com animais domesticados sabe que eles são extremamente sensíveis, capazes de se comportar de forma diferente se os humanos que moram com eles estão tristes ou doentes. Quando alguém da família se ausenta por longo período ou morre, eles ficam claramente prostrados. Quando a família viaja, mesmo que os animais fiquem em locais que eles adorem, com pessoas que conhecem e os tratem bem, o retorno é sempre uma festa.

O animal é parte da família. Ele dá vida e alegria para a casa, ele é companhia e conforto. Ele traz benefícios para a saúde dos humanos com os quais convive. Como é possível, depois de ser beneficiado, de tantos bons momentos, a família achar que aquele ser não cabe mais na sua vida e pronto?

No segundo caso que citei, chegou o dia da família se mudar e eles simplesmente colocaram o cachorro do lado de fora da casa e tchau. Uma pessoa que sabia da ameaça que o cão sofria e estava monitorando o caso acabou ficando com o cão como lar temporário. O primeiro caso, parece que antes de se mudar encontrou alguém que quisesse. Mas eu não diferencio um do outro. Entrega o cão com seus pertences como se fosse uma blusa que você decide que não vai mais usar e deixa pra trás na mudança? O cão se apegou àquela família, aos cheiros, às coisas dela, tem seus hábitos construídos a partir daquela convivência, como horários de dormir e comer.

O que me deixa mais chocada ao ver a proliferação dessas situações é que pessoas que, a princípio, realmente amam seus animais de estimação, passam a mão na cabeça de gente que tem esse tipo de atitude e ainda argumentam: é melhor a família tentar encontrar um lar do que simplesmente deixar na rua. No caso, é no máximo, com muita bondade, menos pior, não tem melhor. Passar a mão na cabeça de gente que comete uma crueldade dessas é contribuir para a banalização da doação. Então, o cara faz um post no Facebook, doa o animal em vez de deixar na rua e aí fica de bonzinho? Não, não é bonzinho não. É cruel, é malvado, não tem coração, não mereceu nem um minuto da felicidade que aquele animal deu a ele.

dono-desconhecido

Em Belo Horizonte, esse cara foi deixado pra trás

 

Existem diversos estudos que mostram que a personalidade do animal de estimação se parece com a do dono. Ou seja, as pessoas com quem o cão ou gato convivem moldam a forma desse animal ser. “A própria ideia de que os cães têm uma personalidade pode parecer estranha para algumas pessoas, mas experiências anteriores demonstraram que características humanas como a extroversão podem corresponder a medições objetivas do comportamento de um cachorro – como, por exemplo, se ele é agressivo com estranhos ou se são mais tímidos”, conforme consta em matéria da BBC sobre estudos que mostram como os cães se parecem com seus donos. A matéria destaca ainda que “um cão pode viver mais do que um casamento, segundo as estatísticas de divórcio.” Já existem casos, inclusive, de sentenças judiciais regulamentando a guarda compartilhada de animal doméstico no caso de separação do casal.

Então, imagine que trauma é para o animal, de uma hora para outra, perder todas as suas referências. Não é uma pessoa da família que morreu ou foi morar longe e ele ficou com as demais, não é a casa que mudou e ele não tem mais o sofá que gostava, mas tem as pessoas. É tudo ao mesmo tempo: perde todas as pessoas que conhecia como família, perde todos os móveis, perde a casa, perde todas as referências. Não consigo passar a mão na cabeça de ser humano que faz uma coisa dessas. Para mim, é crueldade em nível avançado.

Posse responsável deveria implicar em assumir um compromisso com aquela vida enquanto ela existir. A vida é feita de escolhas e, se a pessoa escolheu ter um animal de estimação para alegrar a sua vida, pode ter que, no futuro, abrir mão de determinadas mudanças ou situações que impeçam a presença do animal. Gente que não entende isso, eu não aguento!

 

 

 


placa Cabo da Boa Esperança

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