Archive for the 'Falta civismo' Category

O pior do ser humano

Está aí o fim de ano, período de festas e férias e, com ele, a temporada de descarte. Infelizmente, não estou falando de descarte de coisas que as pessoas não usam mais em suas casas. Estou falando de descarte de vidas. Em um só dia, na minha página do Facebook vi dois posts de gente que está doando seus cães. Motivo: mudança.

marco-antonio-guimara%cc%83esUm deles, o dono é o Marco Antonio Guimarães, parece que do Rio de Janeiro. O outro só sei que é de Belo Horizonte, mas não tive acesso ao nome da dita família. A posse responsável de animais não se trata apenas de cuidar bem, alimentar, manter hidratado e acompanhar sua saúde, implica também em entender que é um ser vivo, que tem sentimentos e que sua existência pode durar algumas décadas. Antes de escolher ter um animal para alegrar a sua casa, é importante entender que sua vida passa a estar atrelada a ele, que você terá que ser responsável por sua existência, enquanto ela durar.

Qualquer pessoa que tenha tido breve contato com animais domesticados sabe que eles são extremamente sensíveis, capazes de se comportar de forma diferente se os humanos que moram com eles estão tristes ou doentes. Quando alguém da família se ausenta por longo período ou morre, eles ficam claramente prostrados. Quando a família viaja, mesmo que os animais fiquem em locais que eles adorem, com pessoas que conhecem e os tratem bem, o retorno é sempre uma festa.

O animal é parte da família. Ele dá vida e alegria para a casa, ele é companhia e conforto. Ele traz benefícios para a saúde dos humanos com os quais convive. Como é possível, depois de ser beneficiado, de tantos bons momentos, a família achar que aquele ser não cabe mais na sua vida e pronto?

No segundo caso que citei, chegou o dia da família se mudar e eles simplesmente colocaram o cachorro do lado de fora da casa e tchau. Uma pessoa que sabia da ameaça que o cão sofria e estava monitorando o caso acabou ficando com o cão como lar temporário. O primeiro caso, parece que antes de se mudar encontrou alguém que quisesse. Mas eu não diferencio um do outro. Entrega o cão com seus pertences como se fosse uma blusa que você decide que não vai mais usar e deixa pra trás na mudança? O cão se apegou àquela família, aos cheiros, às coisas dela, tem seus hábitos construídos a partir daquela convivência, como horários de dormir e comer.

O que me deixa mais chocada ao ver a proliferação dessas situações é que pessoas que, a princípio, realmente amam seus animais de estimação, passam a mão na cabeça de gente que tem esse tipo de atitude e ainda argumentam: é melhor a família tentar encontrar um lar do que simplesmente deixar na rua. No caso, é no máximo, com muita bondade, menos pior, não tem melhor. Passar a mão na cabeça de gente que comete uma crueldade dessas é contribuir para a banalização da doação. Então, o cara faz um post no Facebook, doa o animal em vez de deixar na rua e aí fica de bonzinho? Não, não é bonzinho não. É cruel, é malvado, não tem coração, não mereceu nem um minuto da felicidade que aquele animal deu a ele.

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Em Belo Horizonte, esse cara foi deixado pra trás

 

Existem diversos estudos que mostram que a personalidade do animal de estimação se parece com a do dono. Ou seja, as pessoas com quem o cão ou gato convivem moldam a forma desse animal ser. “A própria ideia de que os cães têm uma personalidade pode parecer estranha para algumas pessoas, mas experiências anteriores demonstraram que características humanas como a extroversão podem corresponder a medições objetivas do comportamento de um cachorro – como, por exemplo, se ele é agressivo com estranhos ou se são mais tímidos”, conforme consta em matéria da BBC sobre estudos que mostram como os cães se parecem com seus donos. A matéria destaca ainda que “um cão pode viver mais do que um casamento, segundo as estatísticas de divórcio.” Já existem casos, inclusive, de sentenças judiciais regulamentando a guarda compartilhada de animal doméstico no caso de separação do casal.

Então, imagine que trauma é para o animal, de uma hora para outra, perder todas as suas referências. Não é uma pessoa da família que morreu ou foi morar longe e ele ficou com as demais, não é a casa que mudou e ele não tem mais o sofá que gostava, mas tem as pessoas. É tudo ao mesmo tempo: perde todas as pessoas que conhecia como família, perde todos os móveis, perde a casa, perde todas as referências. Não consigo passar a mão na cabeça de ser humano que faz uma coisa dessas. Para mim, é crueldade em nível avançado.

Posse responsável deveria implicar em assumir um compromisso com aquela vida enquanto ela existir. A vida é feita de escolhas e, se a pessoa escolheu ter um animal de estimação para alegrar a sua vida, pode ter que, no futuro, abrir mão de determinadas mudanças ou situações que impeçam a presença do animal. Gente que não entende isso, eu não aguento!

 

 

 

O mal do país pode não estar onde você pensa…

Se tem coisa que eu não aguento, é ser massa de manobra. Esse negócio de me contarem uma história e já me darem a conclusão, já apontarem quem é o mocinho e quem é o bandido… fico desconfiada. Gosto de fazer meu cérebro trabalhar e descobrir minhas próprias conclusões. Jornalistas, me dêem informação, a interpretação é minha!

Assim, das revistas semanais do Brasil, eu leio apenas a Carta Capital e gosto especialmente dos textos do jornalista André Barrocal, de quem sou fã e ainda tenho o privilégio de ser amiga. Ele faz exatamente isso. Seu texto não me diz o que eu devo pensar ou usa subterfúgios para me fazer chegar às suas conclusões. Ele informa, eu reflito, eu concluo.

capa cartaNa revista dessa semana, a Carta Capital deu mais um show com a matéria de capa Devo, não nego – o rombo de 30 bilhões de reais no orçamento poderia ser coberto pela caça à sonegação. Ao longo da leitura, confirmei algumas suspeitas, concluí coisas novas e encontrei dados importantes para minha compreensão de vários acontecimentos. Talvez algumas conclusões nem fossem esperadas pelo pessoal da revista, talvez eles tivessem outra expectativa, podem ser até conclusões óbvias demais para quem está entranhado nas informações como eles e pode haver outras que eu nem percebi. Mas foi a minha leitura. E divido aqui com vocês, por achar que as informações que constam ali são realmente preciosas.

A matéria trata do rombo no orçamento da União, que poderia ser coberto se os sonegadores fossem obrigados a pagar o que devem. Até dezembro, a Dívida Ativa da União deve ultrapassar 1,5 trilhão de reais, entre impostos, taxas em geral, contribuições à Previdência Social, multas ambientais, entre outras. E não pensem vocês que estamos falando de dívidas dos pequenos comerciantes, de microempresários, dos jovens empreendedores que podem se embananar na contabilidade. “Os maiores caloteiros são companhias poderosas”, observa a matéria. Os setores campeões de pendências tributárias são a indústria de transformação, o comércio, os bancos, os produtores de alimentos e bebidas, as empreiteiras e as instituições de ensino. E mais: “Os grandes grupos econômicos são os principais ocultadores de patrimônio”. Patrimônio esse que seria executado para fins da recuperação do dinheiro não pago quando a empresa perdesse a causa na justiça. São “contribuintes dispostos a ganhar a vida à custa da sociedade”. A matéria mostra ainda que as empresas tem um verdadeiro “planejamento tributário institucionalizado” que visa, justamente, evitar – ou pelo menos postergar ao máximo – o pagamento do que devem ao Estado. Ou seja, mesmo devendo, eles não pagam, são cobrados administrativamente, continuam não pagando, são cobrados judicialmente e aí deitam em berço esplêndido. Conclusão: no rombo das contas públicas, temos um primeiro culpado – as empresas.

As empresas deitam em berço esplêndido enquanto os juízes sentam nos processos, com seus longos dias de férias, licenças, recessos e sem prazo para apresentar o trabalho. Os processos se arrastam. Dos 100 milhões de processos, 70% jamais foram objeto de julgamento. O mais bizarro: quem entra na lista da Dívida Ativa é proibido de participar de licitações, assinar contratos com o poder público e tomar empréstimo oficial. Mas a proibição acaba no momento em que se inicia o processo judicial. Nesse ritmo, de 2008 pra cá, apenas 1,3% do total da dívida foi recuperado. Conclusão: no rombo das contas públicas, temos um segundo culpado – o judiciário.

Mas não tem lei nesse país? Ah, tem sim. “Uma série de leis ultrapassadas e incapazes de produzir sentenças rápidas”, como escreve Barrocal. O advogado tributarista, Heleno Torres, ouvido pela revista, afirma que “a lei brasileira é muito ruim. Não existe nada parecido no mundo”. Conclusão: o Legislativo, que faz as leis, também é culpado.

Não podemos esquecer que os membros do Legislativo (senadores, deputados federais e estaduais e vereadores) têm suas campanhas eleitorais financiadas por grandes empresas ou grupos econômicos. Daí, juntando uma coisa com a outra e com outra que nem está no texto, mas é assunto do momento, dá pra entender por que discutir o financiamento empresarial de campanha é tão importante.

Como escreveu André Barrocal: “No Brasil, sempre foi mais fácil arrancar o couro da tigrada”.

Jornalistas, parem para pensar no que têm feito

No dia 13 de outubro de 2014, a presidenta Dilma Rousseff falou aos jornalistas em entrevista coletiva: “Todos vocês sabem em que circunstância o ministro Guido [Mantega, da Fazenda] está pedindo o afastamento. Todos aqui sabem. Me poupem. Porque eu acho que é uma questão de respeito pessoal”.

Sim, todos os jornalistas, assim como as pedras nas ruas, principalmente de Brasília, sabiam das circunstâncias pessoais pelas quais passava o ministro Mantega. Mesmo assim, aqueles jornalistas continuaram espezinhando o ministro, deturpando o resultado de seu trabalho, destruindo uma reputação, apenas porque ele não representava o projeto de país que eles defendem.

No mesmo mês que Dilma tinha essa conversa com a imprensa que se comporta feito adolescente malcriado, a taxa de desemprego – uma das principais marcas positivas da economia na gestão da Dilma, com Mantega como ministro – caiu para 4,7%, o menor índice para o mês desde que o IBGE passou a divulgar o dado.

Mantega conciliou desenvolvimento social com estabilidade econômica em um quadro de pluralismo democrático, mesmo diante de uma crise global internacional. Desagradou ao mercado financeiro, sim. Mas o resultado de seu trabalho não era destinado ao mercado financeiro, para grande decepção dos empresários da comunicação e seus fieis soldados de pena nas mãos.

Ele não foi aliado do patrão, mas do trabalhador. Como lembrou Jânio de Freitas (uma das poucas vozes dissonantes da imprensa-representante-do-mercado-financeiro), em artigo na Folha de S.Paulo em dezembro de 2014, “Uma equipe econômica aliada e alinhada prioritariamente com os interesses do capital desfruta de habeas corpus. Mailson da Nóbrega levou a inflação a 84%. Ao mês. Sem ser criticado, só saiu porque o governo Sarney acabou. Todos os números do governo Fernando Henrique são piores do que os atuais, mas Pedro Malan, como Mailson, como Marcílio Marques Moreira e tantos outros, saiu do governo para o abrigo gratificante de grandes empresários.”

Com Mantega, o Brasil alcançou, em termos médios, o maior nível de investimento externo de todos os períodos da democracia atual combinados (Itamar, FHC, Sarney, Lula): US$ 65 bilhões anuais.

Ainda como bem lembrou Jânio de Freitas, “quando leio um título negativo como ‘Sete milhões passam fome no país’, prefiro saber que, por baixo dele, diz-se que em dez anos caiu de 6,9% para 3,2% o número de famílias com ‘insegurança alimentar grave.” Ou seja, metade das pessoas já não passam fome e é preciso continuar o caminho trilhado, para que ninguém mais passe por isso.

Mantega fez muito, fez para a maioria. Eu concordo. Gosto. Aprovo. No entanto, entendo que haja pessoas que não concordem, que representem outro setor da sociedade, que preferiam manter o estado anterior de desigualdade social, onde poucos (eles) se beneficiavam e pronto.

A categoria dos jornalistas, por exemplo, parece tomada por esse tipo de gente. Mas, daí a incitar o ódio contra um ser humano… E foi isso que fizeram insistentemente. Foi nisso que transformaram seu dia a dia os jornalistas de economia do Brasil. Incansáveis, fizeram a população acreditar que Mantega deveria ser escorraçado do governo e violentado em praça pública.

Incitados pela mídia raivosa, foi isso que populares fizeram com Mantega ontem (24/2/15), quando ele acompanhava uma parente para tratamento de doença grave em um hospital em São Paulo. O mais triste para mim, é que desde o começo, o tempo todo, como alertou Dilma em 13 de outubro, os jornalistas sabiam. Mas se aproveitaram de uma circunstância pessoal para colocar em prática um projeto sujo e ardiloso de desmonte de uma figura pública.

Me pergunto apenas se essas pessoas vão conseguir dormir à noite tranquilamente, depois de terem visto as cenas do Mantega no hospital. Me pergunto especialmente como estão hoje aqueles jornalistas que ouviram da Dilma: “Me poupem. Porque eu acho que é uma questão de respeito”, numa tentativa vã de não permitir que usassem as circunstâncias para a inquisição daquele que elegeram como erege.

Eu sequer tive estômago para ver as cenas. Eu estou, de verdade, tomada por uma raiva imensa desses profissionais. Estou vivendo um misto de sentimentos, que vai desde o ódio pela minha fraqueza por não ter conseguido continuar nessa profissão, justamente, por não ter sido capaz de conviver cotidianamente com esse tipo de gente, até a satisfação pela solidariedade que tenho visto nas redes sociais de alguns grupos sensíveis que demonstram seu apoio em um momento tão horrível, mesmo o Mantega não sendo mais ministro, “não sendo mais nada”, apenas um ser humano que acompanha sua esposa no tratamento contra um câncer.

A fala da presidenta aos jornalistas está na entrevista abaixo, no minuto 23’14”. Aliás, na mesma entrevista, Dilma fala: “É óbvio que eu acho que vocês [jornalistas] não reconhecem muito, mas que vocês erram, vocês erram, como qualquer ser humano”.

Esta espécie vil na qual a humanidade tem se transformado, eu não aguento.

Obs.: A entrevista completa tem 35’41” e vale ser ouvida na íntegra. Foi um daqueles dias que Dilma estava inspirada e resolveu tratar os jornalistas com a franqueza que deveria usar todos os dias.

Adendo:

Horas depois da publicação deste post, o ex-ministro Mantega divulgou uma nota de esclarecimento. Um gentleman, como sempre, foi tranquilo no esclarecimento sobre como se deram os fatos e não revidou na mesma moeda de barbárie, como esperavam alguns ansiosamente, para poder, mais uma vez, acusá-lo. Ele afirma também que foi ao hospital visitar um amigo. A informação de que ele havia ido acompanhar a esposa foi uma dedução óbvia, uma vez que é sabido que ela vem realizando tratamento contra um câncer. Assim como também é sabido que Mantega tem procurado ser discreto com relação ao assunto. Respeitemos. Porém, independente do que ele tenha ido fazer no hospital, não há nada a mudar na análise que fiz anteriormente sobre o comportamento dos jornalistas e as consequências disso. Veja aqui a íntegra da nota.

Pedestre

Em Brasília, sou motorista e também pedestre. Os dois papéis têm me irritado profundamente. Hoje vou tratar só de ser pedestre.

Acho uma chatice, por exemplo, a história de chegar em uma faixa de segurança, ficar em pé diante dela e ter que balançar os braços na frente do corpo dando “sinal de vida”, como educam as campanhas sobre o tema. Como já disse meu amigo David Borges, “é preciso mais sinal de vida do que estar em pé ali?”

Mas, a verdade é que talvez precise, porque já vi muita gente parada diante da faixa, esperando a carona, por exemplo. Aí, um carro de alguém mais desatento, que não saiba ler pensamentos, pára para o pedestre atravessar. E ele não atravessa.

Como pedestre em Brasília, sinto vergonha da minha categoria. Definitivamente, os pedestres aqui andam pelas ruas como se não houvesse mais ninguém. É como se devesse existir um caminho para cada pessoa. O egoísmo humano se sobressai de maneira avassaladora na atitude dos pedestres por aqui.

Um ponto que tenho frequentado diariamente, mais de uma vez ao dia, tanto como motorista quanto como pedestre, é a avenida W3 Sul, no Setor de Rádio e TV Sul, na altura do hospital Sarah Kubitschek e do edifício Assis Chateaubriand. O que vejo os pedestres fazendo ali é assustador. Do ponto de vista do risco a que colocam suas vidas e do ponto de vista da forma egocêntrica como entendem o mundo. A pessoa sai de um ponto, tem um destino e o caminho que faz é uma linha reta entre um e outro. Simples assim. Sem observar nenhuma sinalização de trânsito.

Sim, pedestre, você também deve obedecer a sinalização. Usar a faixa de segurança e atravessar quando o farol estiver vermelho para os carros são alguns exemplos. Neste ponto que eu citei, assim como em quase todo o Distrito Federal, na verdade, se você olhar para a esquerda e para a direita, dificilmente não vai encontrar uma faixa de segurança para você. Claro que ela pode não estar exatamente à sua frente, traçando aquele caminho direto entre seu ponto de origem e seu ponto de destino. Sabe por que não? Porque seria impossível ter uma faixa de segurança no ponto de saída ou destino de cada pedestre. Tem uma lá no meio e as pessoas devem fazer seus caminhos a partir delas, não o contrário.

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Jovens atravessando a W3 Sul

Eu passo por esta região indo a diversos pontos a partir de diversos pontos e sempre consigo atravessar só nas faixas ou nos semáforos. Mas sempre que estou esperando o momento certo para seguir meu caminho, vejo pessoas atravessando sem nenhum critério, seguindo apenas seu caminho imaginário, o mais curto entre sua origem e seu destino. Além de colocarem suas vidas em risco, atrapalham o fluxo do trânsito. Mas, atrapalhar o outro parece não ser uma preocupação das pessoas egoístas que por aqui circulam.

Quando o motorista vai entrar em uma rua à direita, normalmente ele olha à esquerda para ver se não vem outro veículo, então, quando ele volta o olhar para a direita, seguindo seu caminho, muitas vezes, um pedestre maluco se materializou na sua frente. Sem que houvesse uma faixa ali. Simplesmente, porque era o caminho mais perto para ele. Neste local que citei da W3 Sul há um ponto de ônibus e, 50 metros a frente, um farol. Mas, por que ir até lá? Eu atravesso aqui mesmo, no meio da rua, de uma avenida super movimentada. As pessoas não pensam que para fluir o trânsito seria inviável ter faixas de pedestre em alguns lugares. Portanto, é inviável as pessoas atravessarem ali. Inviável e arriscado.

Na mesma região, entre as quadras 102 e 302 da conhecida como Rua das Farmácias, também há um fluxo muito grande de pessoas. Elas simplesmente chegam no fim de uma quadra e atravessam para a outra em linha reta. Os carros que estão fazendo a curva que se danem.

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E olhem que incrível. Essas mesmas pessoas, se virassem para o lado, veriam logo ali… uma faixa de pedestres!!!

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Gente, não são nem 20 passos! E sabe por que essa faixa está um pouco para dentro da rua e não na sequência em linha reta do caminho dos pedestres? Para segurança deles mesmos. Uma faixa de segurança não pode estar logo na esquina, porque não vai ser vista pelo motorista em tempo de frear o veículo. Andar 20 passinhos a mais aqui e ali, vai até fazer bem para a saúde e preservar a vida.

Vamos ver o exemplo da senhora abaixo, que carrega uma sacola amarela. Primeiro ela atravessa na W3 Sul, depois na rua das Farmácias. Em dois pontos onde não é permitido que ela o faça. Diariamente, eu saio do mesmo ponto que ela saiu e me dirijo ao mesmo ponto para onde ela foi e faço tudo isso usando as faixas e semáforos. É só uma questão de olhar para os lados e raciocinar.

Bom, com o calor de Brasília, estou chegando à conclusão que os miolos fritam e raciocinar vai ficando mais complicado a cada dia…

Os pedestres preguiçosos e egoístas do Distrito Federal, eu não aguento!

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Tá difícil

Ir ao cinema em Brasília está realmente difícil.

Em 15 de fevereiro, escrevi o texto Programa errado, contando meus dissabores em uma ida ao cinema, mesmo depois de ter escolhido hora e local a dedo para evitar os mal educados. Mas eles estão por toda parte e estavam lá.

Fiquei um bom tempo sem ir ao cinema.

No último mês, fui duas vezes. Em duas sessões não muito cheias, de documentários, nada blockbusters, que costumam atrair todo tipo de gente. Minha expectativa era encontrar uma plateia pequena e selecionada. Era pequena. E selecionada entre os piores tipos do mercado.

Segui o conselho que meu amigo David deu no primeiro post que escrevi reclamando do falatório no cinema: “Nada que um retumbante ‘shhhh’ não resolva!” Pois devo dizer que os retumbantes shhh não resolveram nada.

No primeiro filme, o camarada que falava, quando ouviu o shhh, soltou uma larga risada e continuou a falação. No segundo, as três mulheres que conversavam como se estivessem tomando chá no sofá de casa, nem perceberam, continuaram o papo naturalmente, sem esboçar qualquer reação.

Fico na dúvida se é um fenômeno da atualidade, que tem se dado em todo lugar, ou se é característica de Brasília.

O fato é que já não aguento mais ir ao cinema por aqui. Será que conseguirei ir em outros lugares?

Estacionamento proibido

No dia da abertura da Copa das Confederações, o trânsito em Brasília sofreu algumas alterações e a indicação do Detran-DF era que as pessoas que fossem ao estádio parassem os carros nos estacionamentos do Parque da Cidade.

Ao final do evento, vários motoristas descobriram que tinham sido multados, porque tinham parado seus carros para além dos espaços dos estacionamentos. Houve quem argumentasse que não foi justo, porque se tudo foi mudado naquele dia, entenderam que teria havido mudança também nos locais para estacionamento.

Fato é que o Detran informou quais foram as mudanças e em momento nenhum houve informação de que se poderia parar em espaços fora daqueles demarcados como estacionamentos no Parque.

Irregularidades diárias em frente ao TJ

Irregularidades diárias em frente ao TJ

Por outro lado, todos os dias paro meu carro nas imediações do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), que fica a cerca de 1 km do mesmo Parque da Cidade. Todos os dias, ao procurar vaga para estacionar, vejo carros parados em cima das calçadas e outros lugares irregulares, de forma totalmente inadequada para o trânsito e dificultando a manobra de quem está parado nas vagas. Todos os dias quando volto para pegar meu carro, não vejo nenhum carro multado.

Em cima da calçada pode?

Em cima da calçada pode?

Em uma breve circulada pelas ruas de Brasília, é fácil ver que os motoristas que por aqui conduzem se satisfazem ao encontrar lugares para parar seus carros (por que não dizer largar seus carros?), mas não necessariamente vagas. Aliás, pelo que se vê na cidade, nem acredito que aqui as pessoas têm o conhecimento legal do que é uma vaga, de onde é permitido estacionar um carro e de onde é sempre proibido, como nas esquinas e no espaço de 5 metros a partir de qualquer esquina.

A faixa amarela está um pouco apagadinha, mas está lá. Qual parte da placa será que não entenderam?

A faixa amarela está um pouco apagadinha, mas está lá. Qual parte da placa será que não entenderam?

Por que, então, no dia do jogo houve tantas multas? Alguém querendo completar a cota do mês? Alguém querendo aparecer e mostrar um serviço que, de fato, não realiza no seu cotidiano? Veio um extraterrestre trabalhar no Detran aquele dia e achou que os motoristas de Brasília deveriam cumprir a lei, diferente do que pensam outros agentes?

Deixo claro que concordo com quem trabalhou naquele dia e fez seu trabalho. Mas gostaria que ele o fizesse todos os dias, houvesse ou não eventos de repercussão internacional. Afinal, civismo deve ser praticado na vida, não só quando o guarda de trânsito resolve que é importante.

Sou do tipo que acha que a coisa certa deve ser feita porque é certa, não porque a errada vai gerar uma punição. Agora, devo frisar que a incoerência no tratamento dispensado aos cidadãos é uma coisa que eu não aguento.

Dizem que Brasília não tem esquina. Talvez por isso os motoristas aqui não aprendam que estacionar na esquina é sempre proibido

Dizem que Brasília não tem esquina. Talvez por isso os motoristas aqui não aprendam que estacionar na esquina é sempre proibido

P.S.: No dia 8/7/13, circulei com mais calma pelo mesmo estacionamento e não resisti a tirar mais fotos, que inseri no post depois de escrito. A bizarrice humana sempre me atrai.

Eu não aguento a sua música

O problema não é o estilo da música que a pessoa ouve, afinal, tem gosto para tudo. O problema é a falta de respeito com o espaço público. Agora, por exemplo, estou no aeroporto de Brasília, que está com as salas de embarque lotadas, porque parece que Rio de Janeiro e Curitiba estão fechados devido ao clima. Então, um indivíduo sentado umas três fileiras distante da minha resolveu que todos temos que ouvir a música que ele gosta. E está lá com seu celular tocando música sem fone de ouvido.

Já vivenciei situações como esta várias vezes e em vários locais públicos, como metrô, ônibus e salas de espera. Fico sempre impressionada com a incapacidade das pessoas em respeitar o outro. Eu, por exemplo, estou aqui no meu computador desabafando sobre a atitude inconveniente do indivíduo logo ali, mas poderia estar ocupando meu tempo em alguma leitura, escrevendo um trabalho para a faculdade ou qualquer outro tipo de documento. Mas como é que eu iria me concentrar com essa musiquinha besta no meu ouvido?

No caso, nem é música que eu goste. Mas, ainda que eu gostasse, eu teria que ter o direito de escolher quando ouvir.

Quando vivencio essas situações sempre fico pensando que a pessoa não consegue viver em sociedade, porque se considera único no espaço. Esse individualismo neoliberal que se apropriou de nossas culturas e acabou de vez com o respeito ao próximo.

Então, eu me vejo pensando se há alguma atitude a ser tomada: fazer o mesmo? Ligar o meu som individual tocando alguma música bem diferente daquela que o indivíduo está ouvindo, para, quem sabe, ver se ele se manca? Não, porque eu estaria me igualando a ele. Abordar a pessoa e tentar argumentar sobre o direito que eu tenho de não ouvir nada e até dar o exemplo de que se todos resolvêssemos fazer o mesmo que ele, o espaço se transformaria num caos? Duvido que este tipo de gente compreenda algo assim só com explicação teórica, sem um gráfico e um vídeo ilustrativo.

Acho que me resta esperar todos os dias que o destino colabore e coloque o menor número possível de seres humanos no meu caminho.

Programa errado

Resolvi ir ao cinema na Quarta-Feira de Cinzas. Peguei a sessão das 13h, de O lado bom da vida. Minha expectativa era encontrar o menor número de pessoas possível. Ultimamente, as salas de cinema até tentam ajudar, exibindo vídeos de animação bem humorados com o objetivo civilizatório, onde avisam: desligue o celular, não converse durante a sessão, não balance a cadeira da frente com seus pés e outros. Mas, ainda assim, os seres humanos continuam não atendendo a todas as solicitações. Então, evitei pegar uma matinê de sábado no Pier 21, onde a frequência (adolescentes. Muitos deles.) por si só indica que qualquer filme a ser escolhido não será visto em paz. Fui ao cinema às 13h, da Quarta-Feira de Cinzas.

Minha expectativa de encontrar poucas pessoas se confirmou. Quando apagaram as luzes, olhei em volta e havia muito menos de 10 pessoas na sala. Alguns ainda chegaram já com as luzes apagadas, mas ainda antes do filme. Perdoados. E não passamos de 10 ao todo.

Mas vejam a minha sorte. Atrás de mim, logo atrás, nas cadeiras imediatamente depois da minha, sentaram duas moças faladeiras. Falar nos momentos antes do filme, durante propagandas e trailers, eu acho normal. Considero um momento de climatização.

O filme começou e a conversa não parou. Falavam de tudo. Comentavam cada cena. Comparavam os personagens que iam surgindo com pessoas conhecidas suas, sugeriam melhores enquadramentos para o diretor, comentavam a iluminação e, claro, falavam de coisas que nada tinham a ver com o filme, mas tinham vindo à mente naquele momento.

Esperei passar 15 minutos, como tolerância para que elas notassem que não estavam na sala de casa. A conversa continuou. Olhei para trás, como que procurando de onde vinha aquele som irritante. A conversa parou. Por não mais do que cinco minutos. Voltou na mesma intensidade, com a mesma animação e diversidade de temas.

Tentando me concentrar no filme, não pude evitar de pensar: são aquele tipo de gente que acha que seu eu mandar se calar, vou estar impedindo sua liberdade de expressão. São pessoas que não percebem que o direito delas termina quando começa o dos outros. Acham sempre que o delas ainda não parou de começar…

No meio do filme, como a sala estava bem vazia, abri mão do meu lugar estrategicamente escolhido antes de entrar na sala e fui três fileiras para frente, mais à direita, para sair da direção da conversa. Assim, o bate-papo se transformou em um cochicho distante e consegui prestar mais atenção ao filme.

Ao final da exibição, fui ao banheiro. Lá estavam as duas. Conversando animadamente. Uma lavando as mãos, a outra ainda dentro da cabine. Mas a conversa fluía naturalmente. Então, tive a certeza de que tinham escolhido o programa errado. Deveriam ter ido a um café, onde poderiam simplesmente sentar e conversar, matar saudades, colocar fofocas em dia… e sem nenhum filme para atrapalhar.

Mas foram ao cinema e eu tive que aguentar.


placa Cabo da Boa Esperança

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