Posts Tagged 'justiça social'

Quem está de luto sou eu

Há algumas horas eu fiz um post no Facebook divulgando a matéria do DCM, cujo link está no fim deste texto. Mas acordei com a sensação de que o acontecimento vale mais que um post no Facebook, onde tudo é passageiro, até as ditas amizades. Resolvi fazer um texto para o blog, que ainda é mais perene.

Depois dessa publicação vou fechar meu Facebook pelo menos por hoje. Estou de luto. Estou de luto por vocês que foram para a Paulista ontem depois do anúncio de Lula como ministro, por cada um de vocês que tem participado dessas manifestações. Todos, sem exceção: os mal intencionados e os ingênuos, os que foram de graça e os que levaram vantagens para ir, cada um que engrossou a massa dessas manifestações contra o governo será responsável por cada agressão e cada morte que vier a ocorrer. Porque elas já estão ocorrendo e vão ocorrer cada vez mais.

Por Bundesarchiv, Bild 102-09844 / CC-BY-SA 3.0

Benito Mussolini, ditador que fundou o movimento fascista, em discurso em Milão em 1930. Fonte: Bundesarchiv, Bild 102-09844 / CC-BY-SA 3.0

Se alguém que me lê não entende direito o que é fascismo, por que essas manifestações contra o atual governo brasileiro têm sido chamadas de fascistas, esse episódio é a ilustração perfeita do fascismo: ocorreu uma manifestação que não havia sido previamente informada, não foi negociada com as autoridades no prazo exigido (no meu tempo de estudante na Paulista, isso resultava em cacetete nas costas), mas a manifestação foi devidamente escoltada pela polícia tucana. Então, um casal que passava por lá, porque era seu caminho e talvez nem soubessem da tal manifestação relâmpago, foi abordado por um manifestante que gritou “Fora Lula” no ouvido de um deles, que respondeu não concordar. Veja bem, ele não gritou “Fica Lula”, ele não ofendeu ninguém, ele apenas não concordou. Foi espancado. Agora você tem que sair às ruas e gritar o que estão gritando, para não apanhar? Mesmo que você não concorde, você tem que engrossar a massa com gritos de guerra que atacam aquilo no que você acredita. Isso é fascismo. Isso é opressão. Isso não é civilizado.

Nasci em meio a uma ditadura militar e, de criança, meu pai me ensinou a ter medo da polícia. Era fácil identificar, usavam fardas. Agora tenho medo de todo mundo. Acordei com medo, porque a última coisa que vi antes de dormir foi essa história e não foi fácil dormir depois disso. Mesmo com a certeza de estar defendendo uma sociedade mais justa, durmo com medo do meu vizinho, de andar na rua, de dizer o que penso, de usar uma roupa com a cor que eu gosto. Tenho tido medo de viver, de ser eu mesma, de me expressar, apenas porque não acho certo a empregada doméstica ter menos direitos que o executivo, apenas porque fico feliz em ver que 36 milhões de pessoas não passam mais fome nesse país, apenas porque acho que o fazendeiro que explora seus peões como escravos está errado, apenas porque acredito que todos os trâmites legais, conquistados a duras penas, devem ser considerados antes da condenação e detenção de alguém.

Tenho medo do ódio que vive no coração dessas pessoas. Não sei como esses manifestantes têm conseguido dormir com ele, mas enxergar eu tenho certeza que não conseguem mais.

Aqui a matéria do Kiko Nogueira, que no título pergunta: MORO, UM CASAL FOI ESPANCADO NA PAULISTA POR NÃO GRITAR “FORA LULA”. ERA ESSA A IDEIA?

Atualização 17 mar 2016, às 17h40: na tarde do dia seguinte ao ocorrido, uma das vítimas, Isadora, relatou passo a passo o que aconteceu. Se você tiver estômago forte, leia aqui. O meu revirou várias vezes durante a leitura…

Classe média

Taí uma coisa que eu não aguento. Sem restrições. Essa classe média brasileira que, em geral, são ricos com uma certa vergonha cristã de se assumirem como tal. Essa gente cansada, que clama por justiça, mas incapaz de tirar um milésimo do que tem em seus cofres para ver feita a justiça social. Essa gente que estudou em escola de rico, ops, de classe média, e que nas aulas de história não viu a opressão secular das camadas menos favorecidas economicamente, não entendeu a exploração do trabalhador, não aprendeu sobre exclusão social.

E tudo isso me faz lembrar a música Classe Média, de Max Gonzaga, apresentada em um festival de 2005, mas que será atual enquanto houver a classe média sofrida:

Vale também ver a fantástica animação feita para a música no blog Tecedora.


placa Cabo da Boa Esperança

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